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sábado, 2 de abril de 2016

Guest Post de Amanda Anderson

Deplorável é ver a desconstrução do gênero feminino, conquistado através de lutas seculares. O machismo, conotado desde o início de sua gestão por muitos historiadores políticos, seria inevitável à primeira mulher a atingir a Presidência do Brasil.
Aos que não conhecem, todos os sinônimos usados na capa desta revista referem-se ao termo "histeria", uma conotação machista e sexista, referência de uma doença condicionada ao gênero feminino, proveniente do útero e criada para justificar funções estéreis da mulher que resultam em descontrole, vejamos sua classificação:
Significado de Histeria
s.f. Medicina. Antigo. Doença nervosa que, possivelmente, tem sua origem no útero e pode ser definida pelo aparecimento de convulsões.
Comportamento que se define pelo exagero de sentimentos emotivos ou provocado por outros motivos.
Psicanálise. Neurose definida pela ação de recalcar inconscientemente os impulsos, sendo estes manifestados (fisicamente) pelo corpo.
Psiquiatria. Neurose demonstrada por impulsos corporais, embora não haja problemas de ordem orgânica.
Histeria de Angústia. Psicanálise. Caracterizada pelo excesso de fobias e angústias.
Histeria de Conversão. Psicanálise. Caracterizada pela ação de transformar os problemas psíquicos ou emocionais em sintomas físicos.
Histeria de Dissociação. Caracterizada pela influência dos problemas de ordem psíquica na consciência e na identidade.
Sinônimos: Falta de controle emocional, geralmente, acompanhada por gritos ou gestos descontrolados.
Nervosismo; excesso de irritação, de exaltação. (Dicionário OnLine de Português)
Melhor explicita Joviane Moura (2009) que:
A palavra histeria – histeros, que em grego, quer dizer útero- ao longo da história estava, por definição ligada de forma indissociável ao feminino e com o sexual. Na Idade Média a Histeria passou a ser definida como possessão pelo demônio.
Essa terminologia foi usada, durante a idade média como classificação de mulheres que deveriam ser “exorcizadas”, muitas tendo ceifada sua vida nesse processo de cura ou queimadas em praça pública. Personagens históricos como Joana d’Arc, Santa Tereza, Santa Isabel, Santa Brigida e tantas outras (RODHEN, Fabiola; 2001), foram classificadas, cada uma em sua época, de histéricas e demonizadas, condenadas a morte por serem indignas de confiança por sua instabilidade.
Assim, desde as primeiras citações desta doença por Hipócrates e Platão, depois amplamente discutidas por Freud, essa doença era mais comum em mulheres que não cumpriam seu papel social, ou seja, aquelas que não permaneciam na forma social a ela delegada, como reprodutora e mulher exemplar nos cuidados com seu marido, prole e sua casa, facilmente atribuída àquelas mulheres que resolviam lutar por sua liberdade.
Na Idade Média, o papel da mulher não havia sofrido grandes alterações em sua essência e o caráter extremamente religioso da época contribuiu para que mulheres histéricas fossem consideradas bruxas, devido a manifestação de seus sintomas. Fica bastante evidente, portanto, a violência com que eram recebidos esses sintomas, considerados como algo do mau (Ávila & Terra, 2010; Leite, 2012)
Neste contexto, a analise mais critica das atitudes machistas que se prolongam durante os séculos, subvertendo lutas por direitos igualitários de um gênero suprimido, nos trás à tona as práticas mais degradantes de nossa mídia, alicerçada por muitas do gênero feminino que desconhecem sua história e as lutas de seu gênero por séculos.
As questões de gênero tem sido reprimidas em âmbito nacional, como uma falácia denominada “ideologia de gênero”, terminologia criada como forma de descaracterizar as lutas de classe - sejam ela de identidade de gênero ou sexo biológico - com o apoio de muitas que não percebem o crescimento do conservadorismo e da retirada de seus próprios direitos.
Usar sinônimos de uma doença que condenou inúmeras mulheres a morte pela luta de igualdade em direitos para classificar uma Chefe de Estado é, no mínimo, retroceder à praticas arcaicas, sido crescentes na atual onde de retiradas de direitos pelo crescente fascismo conservador, trazendo à tona o machismo que quebramos todos os dias e nos mostrando o avanço, apoiados pela mídia, daqueles que, além de tirarem direitos, jamais aceitarão a igualdade de gêneros e a luta daquelas que deram sua vida pela liberdade regrada que possuímos atualmente.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, L. A. & Terra, J. R. Histeria e somatização: o que mudou?. Jornal Brasileiro de Psiquiatria: 2010. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/…/A_Histeria_antes_de_Charcot_e_de_Freud>.
Dicionário On Line de Português. Histeria. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/histeria/>.
MOURA, J.; Introdução à Histeria. Psicologado, 2009. Disponível em: <https://psicologado.com/a…/psicanalise/introducao-a-histeria>.
Riter, H. A Histeria antes de Charcot e de Freud. Revista OnLine: Psicopatologia. UFRGS: 2013. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/…/A_Histeria_antes_de_Charcot_e_de_Freud>
RODHEN, F. UMA CIÊNCIA DA DIFERENÇA: sexo e gênero na medicina da mulher, 2ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001.
SCOTTI, S. A histeria em Freud e Flaubert. In: Estudos de Psicologia Universidade Federal de Santa Catarina; 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v7n2/a14v07n2.pdf>.

Um comentário:

  1. Boa noite, Candida!
    Sou frontalmente contra o Lula e o PT, mas torcia pela Presidente Dilma, pela garra de estar no mais alto posto do País, por ser mulher, por nos representar.
    Procuro não ler muito o que se fala dela, pois sinto muitas vezes um certo revanchismo de machistas.
    E, sinto, sinto muito mesmo, que tenham levado para esse lado, que é muito usado por homens que agridem mulheres, alegando legítima defesa: histeria feminina.
    Sinceramente, Cândida, não sei mais o que falar, apenas acho que não é correto levar para esse lado.
    Mulher nunca deixará de ser subalterna aos olhos dos machistas.
    Abraços carinhosos
    Maria Teresa

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