Eu

Eu

sábado, 11 de julho de 2015

A LUTA DA MULHER É TODO DIA DE LUTA DA MULHER



Eu não vou falar de movimento feminista. Eu quero falar de mulher, seja ela militante partidária, militante em algum movimento feminista, negra, pobre, rica, dona de casa, letrada ou iletrada.
Toda mulher luta desde que nasce. Na antiguidade lutavam para sobreviver em sociedades em que eram descartáveis. Lutam na China com a política do filho único, explico: Na China e no Japão os filhos homens tem obrigação de cuidar dos pais na velhice, o Estado dá maior incentivos a quem tem filhos homens e praticamente nenhum a meninas, então elas ou são abortadas, deixadas para morrer ou lotam depósitos de gente.
Quando somos meninas lutamos contra o abuso e a exploração sexual. Nós somos a maioria nos casos de abuso sexual e estupro de vulnerável (até 12 anos), que não acontece na rua, mas, em casa com o pai, o padrasto, o namorado da mae, o tio, o avô, o primo…E se somos meninas com deficiência somos mais vulneráveis ainda.
Se somos meninas pobres e nossas mães (hoje chefes de família) tem que trabalhar, mesmo que haja um irmão mais velho, nós com oito, nove, dez anos, assumimos a casa. E sabe o que acontece? Deixamos de estudar e apanhamos se nossa mãe não chegar em casa e encontrar todo serviço feito. Numa perversa troca de papeis de gênero, onde nós somos a “dona de casa” e a nossa mãe “é o provedor” e assume um “papel masculino”.
Para escapar dessa situação normalmente casamos “juntamos” com um “carinha”, temos um filho e na grande maioria (há exceções) cedo ou tarde começamos a sofrer violência desse “marido”, temos baixa escolaridade, um filho e o bolsa família não é o bastante para comer e alugar uma casa. Então ficamos naquela relação violenta porque não temos para onde ir e porque a família é um lugar que não dá para voltar mais.
Pior é quando a gente sofrendo tanta violência em casa, até sexual, nós vamos para rua e nos prostituímos, nos drogamos e sofremos todo tipo de violência. Se somos apreendidas ou presas nossas condições são subumanas, além de mais violência, principalmente sexual que sofremos e o abandono da família, do companheiro, que por vezes deixa em nós um filho que vai nascer na prisão e aos seis meses ser separado de nós.
Somos trabalhadoras, ganhamos menos que os homens, sofremos assédio moral e sexual no ambiente do trabalho. Sofremos assédio nos transportes públicos quando nos deslocamos para o trabalho. Sem falar aquela “maneira de nos tratar como eternas menininhas, coisinhas, fofinhas, bibelozinhas” que de uma forma camuflada nos diminuiu no mundo masculino.
E como trabalhadoras somos donas de casa. E se trabalhamos, seja qual for nossa condição social (somente se formos muito ricas e tivermos uma funcionária doméstica), chegamos em casa e tem trabalho esperando por nós. o jantar/almoço, o filho para cuidar, o marido  e no fim de semana as compras, a faxina, a roupa pra lavar e passar para deixar a casa organizada para semana.
E não taxem a dona de casa de “alienada e não trabalhadora”, da hora que acorda, quase nunca depois de sete ou oito horas da manhã, ela não para até a noite com os diversos cuidados com a casa, filhos, marido e tudo o mais.
Gestar e criar um filho é uma grande luta. Nem todos são reconhecidos ao tempo de dedicação (abrindo mão de sonhos próprios) para orientar, cuidar, ouvir, acompanhar...e nos esquecem na velhice.
E na velhice somos abandonadas em asilos ou somos aquele estorvo que recebe gritos dos filhos ou sofrem abusos financeiros deles.
Então nossa luta é diária. Todo dia é uma luta para uma mulher. Esteja ela num movimento organizado, cheio de contradições e divergências, muitas vezes difíceis de conciliar, como em qualquer movimento. Além da nossa luta diária.
E olha que eu falei da nossa luta em geral. Nem falei da luta da mulher negra que é duas vezes mais árdua.
Então, por favor, antes de nos exortar a LUTAR olhe nossa luta diária, olhe ao seu redor, olhe as mulheres que os cercam: dentro de casa, na rua, no local onde você trabalha.
E os convido a aderir ao Eles por Elas e unir-se a nós como parceiros na nossa luta. Ela é nossa sim e lutamos. Mas, ela é também de vocês homens, que acreditam numa sociedade justa, equânime, igualitária, socialista.
Então, vamos LUTAR JUNTOS?


Candida Maria



http://www.heforshe.org/pt#take-action

Um comentário:

  1. PERFEITO, precisamos que Eles se aliem a nós, não lutamos contra Eles, mas sim, para a "melhoria" da raça humana!!!
    Amei seu texto, obrigada, abraços carinhosos
    Maria Teresa

    ResponderExcluir